30/01/2012

Leviandades Da Poesia: À tua espera

Leviandades Da Poesia: À tua espera

À tua espera

Sentado aqui ao sol

espero por ti
vou lembrando a noite
sentido teus cheiros
ouvindo baixinho a tua voz
na memória vai correndo a noite
as tuas mãos
a tua lingua
a boca cheia de beijos
os corpos presos no tempo
Aqui sentado ao sol
sinto o calor da tua boca
as caricias da tua lingua
perco-me no tempo
e procuro as imagens
Sentado aqui à tua espera
sinto-te colada a mim
e oiço a tua voz sussurrando
o teu corpo quente contra o meu
e os dois soltos na noite
e eu aqui sentado à tua espera

05/01/2012

Nostalgia

Fui ter com a minha mãe a campo de ourique para ir levantar a minha carta de condução aos correios, fui de metro sai no rato e subi a av. alvares cabral, passei pelo liceu pedro nunes e a nostalgia começou a tomar conta de mim, os tempos em que era feliz e despreocupado passaram como um filme diante dos meus olhos, ia subindo a avenida e ia entrando no mundo de há trinta e tal anos, como se tivesse entrado de repente numa máquina do tempo e fosse teletransportado para osa anos 70, recordei e vi, quando a sede do MRPP era mesmo ali e eu a ajudar a pintar o mural, e a apregoar o Luta Popular, estava mesmo ali com os meus 13 anos cheio de vontades de ilusões, sonhos que se foram desfazendo com o correr dos anos. Um pouco mais acima o salão de jogos Monumental, olhei para a porta e vi-me a entrar na companhia do meu amigo da altura, e de quem guardo saudades, o Carlos, eramos dois pequenos piratas,ia-mos de certeza para a pista de carros com aquele bolide encarnado com o numero 8 pintado à mão nas portas e no tejadilho, acho que a maior parte das peças foram sacadas na loja que havia lá em cima do lado esquerdo de quem sobe mesmo ao lado do café 1500, este ainda existe. Devia haver uma competição, pois ia-mos os dois com ar muito seguro e divertido, a avenida vai subindo e as memórias desfilam mesmo à minha frente, ali naquela esquina, da avenida com a rua sao bernardo, agora há um prédio grande, quando eu andava no liceu era um prédio baixo com um café, que agora não recordo o nome, e uma papelaria onde eu comprei o meu primeiro isqueiro, um Dupont era lacrado a preto com as arestas douradas, em frente havia uma livraria que vendia os livros do liceu hoje é um café Papo Cheio, acho que é assim que se chama. Em frente à porta do liceu nada mudou, quer dizer são outros os actores, a mesma malta à frente do liceu a fumar e a conversar a fazer tempo para o próximo toque, deve ser o intervalo de vinte minutos. Continuei a subir e a desfilar momentos da juventude, a correria por aquela rua para fugir das pedras ou da policia militar ou gnr por causa dos disturbios dentro do liceu, ano 74/75, ou simplesmente para ir para casa porque estava a chover e eu não trazia chapéu de chuva como era habito.
Sai dos correios despedi-me da minha mãe, e comecei a descer a rua saraiva de carvalho lá ainda se encontra o quartel da GNR, entrei pelo jardim da estrela
Olha lá vou eu a descer a rua do jardim montado na bicicleta vermelha do Carlos, com a manete de mudanças a meio do quadro, era das novas toda estiling, ia em grande velocidade depois dava a volta ao coreto e continuava até ao pequeno lago da estátua do ..... eram corridas loucas.
Ia descendo e as correrias, os primeiros namoricos, os apalpões às raparigas "Aqui águia 1 mesmo em frente alvo bem definido" e lá ia-mos os dois numa corrida passavamos pela rapariga davamos-lhe um aperto na bochecha do rabo e ficavamos a ver a reação dela quando de repente passava o outro a fazer a mesma coisa, por vezes tinhamos de dar uma corrida bem grande porque lá vinha o chapeu de chuva em riste, outras vezes elas riam e ficavam coradas, coisas de putos que ainda brincavam aos carrinhos e ao berlinde.
Mesmo à saida para a avenida olhei para o lado direito, para a outra porta que sai para o mesmo lado e vi o fotografo à la minuta a tirar-me aquela fotografia em que eu estava vestido de mulher foi pelo carnaval. Que arrepio
Descia a avenida e no passeio em frente do liceu lá estavam as chaimites do cop-con a policiar o liceu, lembro-me quando estava sentado no gabinete do reitor, um major do exercito, e lá fora uma imensa massa de estudante a querer correr com ele da reitoria, à cabeça vinha o Pinto, que era meu vizinho em campo de ourique, queriam entrar mas as portas não cediam, então tive a brilhante ideia de puxar o ferrolho do chão e eis que entra a turba por ali a dentro e lá vai a ser corrido a estalo e pontapé o tal major, hoje tenho alguma pena do tipo até bateu contra o autocarro nº9 verde de dois andares. Eram os meus tempos de rebelde, os sonhos vinham lá ao fundo e o futuro era risonho e demorava, já passaram 37 anos.
Mais uma vez passei ao pé do Monumental, antes mesmo colado era o cinema Jardim cinema, de lá saiam os barulhos da malta a comprar o bilhete "para as palhinhas são 25 tostões o mais barato é para a lateral", dizia a senhora da bilheteira, do salão vieram os barulhos das bolas de bilhar, e lá em cima havia as mesas de ping-pong onde eu aprendi a jogar, cá em baixo eram os bilhares e os matrecos mais a pista de carros electricos, e mais tarde as primeiras maquinas de pingball. Passei horas nesse sitio.
A nostalgia ia descendo a rua e eu ia passando por diversos estados de espirito à medida em que os anos iam passando por mim, num desfile ora lento ora mais em passo rápido, ali comprava roupa na Brunnel, hoje é um banco, ali comprei alguns sapatos, lá ao fundo vi uma vez uma carga polical dos gorilas os tipos da pide, era miudo devia ter para oito ou nove anos e ia para casa dos meus avós ao principe real.
A descida para o metro, que coisa tão disparatada o metro no largo do rato, pois era mas agora é uma realidade e eu viajo de novo para o presente, mas vim nostalgico e com a certeza de que um destes dias irei de novo ao jardim, para me sentar num dos locais da minha infancia e fazer de novo a viagem à meninice, ao tempo dos sonhos que vinham lá longe e o importante era que o meu lotus azul bébe chegasse primeiro à meta

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