08/05/2009

Sou o Vento

Eu sou o vento

que arma as velas da Nau Catrineta

Eu sou a pena                                     

com que escreve Camões

Eu sou o nevoeiro

que esconde dom Sebastião

Eu sou a ninfa

de todos os poetas

sou o povo

a escrita

o poema e o romance

Eu escrevi

Monólogos de Vaqueiros

sonetos e cancioneiros

Eu fui Gil

posso ser Pessoa

Saramago ou Anónimo

escrevo o que outros sentem

sou eu que és tu

posso ser ou não ser

Passarola de Bartolomeu

voar por esses campos

pintar nessas linhas

palavras doces

rimas infernais

contos estéreis

estórias fecundas

Eu sou o mar

por onde navegou Vasco

Eu sou o céu

onde voou Sacadura

Eu sou a terra

onde nasceu Eça

Eu sou a linha

onde escreveu Antero

Eu sou o erudito

que nada sabe

Eu sou o iletrado

que leu

Pessoa, Namora

que estudou

Álvaro, Camilo

Eu sou

o que os outros me deixam ser

sou aquele a quem chamam

o louco

o insano

Eu sou

quem sou eu

não sei

porque sei

que sei tantas outra coisas

que esqueci de saber

o que em vida dos outros

esqueci que sabia quem eles eram

os nomes

os Eça que podem ser Pessoa

os Saramago que podem ser Namora

os estes e aqueles

que podem ser aqueles e estes

Eu sou

o vento

que riça as velas da Nau Catrineta

sou a tinta

que se espalha nos sonetos de Camões

Eu sou o vento

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