Eu sou o vento
que arma as velas da Nau Catrineta
Eu sou a pena
com que escreve Camões
Eu sou o nevoeiro
que esconde dom Sebastião
Eu sou a ninfa
de todos os poetas
sou o povo
a escrita
o poema e o romance
Eu escrevi
Monólogos de Vaqueiros
sonetos e cancioneiros
Eu fui Gil
posso ser Pessoa
Saramago ou Anónimo
escrevo o que outros sentem
sou eu que és tu
posso ser ou não ser
Passarola de Bartolomeu
voar por esses campos
pintar nessas linhas
palavras doces
rimas infernais
contos estéreis
estórias fecundas
Eu sou o mar
por onde navegou Vasco
Eu sou o céu
onde voou Sacadura
Eu sou a terra
onde nasceu Eça
Eu sou a linha
onde escreveu Antero
Eu sou o erudito
que nada sabe
Eu sou o iletrado
que leu
Pessoa, Namora
que estudou
Álvaro, Camilo
Eu sou
o que os outros me deixam ser
sou aquele a quem chamam
o louco
o insano
Eu sou
quem sou eu
não sei
porque sei
que sei tantas outra coisas
que esqueci de saber
o que em vida dos outros
esqueci que sabia quem eles eram
os nomes
os Eça que podem ser Pessoa
os Saramago que podem ser Namora
os estes e aqueles
que podem ser aqueles e estes
Eu sou
o vento
que riça as velas da Nau Catrineta
sou a tinta
que se espalha nos sonetos de Camões
Eu sou o vento


Sem comentários:
Enviar um comentário